(Por André Laurênio de Melo, Professor Adjunto da Unidade Acadêmica de Serra Talhada/UFRPE)
A serra
Talhada, localizada no semiárido do estado de Pernambuco, é o mais importante
atrativo paisagístico da cidade de Serra Talhada. Pela sua posição, história,
riqueza fisionômica e biológica, tem grande potencial para o turismo
ecológico-educativo, embora este segmento seja pouco explorado na área. Neste
contexto, a flora e a vegetação de caatinga que recobre a serra merecem
especial atenção pela diversidade de formas, cores e interessantes aspectos
ecofisiológicos, que englobam a perda de folhas nos períodos de estiagem e as
florações chamativas, especialmente dos ipês-roxos e das diversas espécies de Ipomoea, rosadas ou azuis, plantas conhecidas
localmente como salsas.
Com cerca de 810 m de altura máxima, a serra
Talhada quase faz sombra sobre a cidade homônima. Entretanto, a relação dos
moradores desta cidade com o referido monumento, ora é de admiração, ora de indiferença,
chegando mesmo a passar despercebido apesar do seu enorme tamanho. A carência
de estudos científicos realizados na região dificulta o interesse pela
diversidade biológica ali encontrada, visto que o elo entre a academia, as
escolas e a população em geral, é o conhecimento que pode ser disseminado e
despertar as consciências.
A serra Talhada é recoberta pela caatinga,
também conhecida como vegetação caducifólia (que perde as folhas
periodicamente) espinhosa. Nesta formação, predominam arbustos e árvores de
pequeno porte, microfilos (com folhas pequenas) e com evidente perda de folhas
no período de estiagem. O estrato herbáceo (composto por ervas e pequenos
arbustos) é rico e efêmero, não resistindo a seca e, rapidamente, aparecendo
quando começam as chuvas, graças a um eficiente e vasto banco de sementes
deixado no solo na estação chuvosa anterior.
Um estudo recente desenvolvido pelo biólogo
Rodrigo Soares Cordeiro, realizado na porção norte da serra Talhada registrou
60 espécies de árvores, duas delas, a aroeira (Myracrodruon urundeuva) e
a braúna (Schinopsis brasiliensis), consideradas ameaçadas de extinção
pelo Ministério de Meio Ambiente. São comuns também na vegetação espécies
conhecidas como marmeleiro (Croton blanchetianus), pata-de-vaca (Bauhinia cheilantha), velame (Croton rhamnifolioides), aroeira (Myracrodruon urundeuva) e catolé (Syagrus oleracea). Outro grupo de plantas se sobressai na
paisagem, são as cactáceas, como o mandacaru (Cereus jamacaru), o
xique-xique (Pilosocereus gounellei), o facheiro (Pilosocereus
chrysostele), a palmatória (Tacinga palmadora), o quipá (Tacinga
inamoena) e o rabo-de-raposa (Harrisia adscendens) e, as
bromeliáceas, especialmente a macambira (Encholirium spectabile),
que forma vastas touceiras onde se destacam grandes pendões florais.
A despeito da importância da serra Talhada
como monumento natural, a sua vegetação vem sofrendo crescente depredação, seja
pela pressão da urbanização e suas culturas e criações que já chegaram aos
pontos mais altos da serra, seja pela retirada seletiva de madeira para
construção de cercas e fabricação de carvão.
É importante que a serra Talhada seja
preservada em toda a sua magnitude, pela natureza e pelo homem, mas não apenas para
usufruto de poucos. A população que a rodeia só poderá se orgulhar do seu mais
imponente monumento se ele for mantido e forem sanados os problemas com a
exploração desenfreada dos seus recursos naturais.
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